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D.Gritos

Nos anos 80 surgiu em Serra Talhada um grupo que revolucionou o cenário musical do interior de Pernambuco e do Nordeste, era a banda D.Gritos, formada por jovens serratalhadenses, eles quebraram tabus e  preconceitos culturais e sociais que predominavam na época. Com letras fortes e autênticas eles conquistaram a juventude da sua geração. Foram três discos gravados, sendo que apenas um foi lançado, Barriga de Rei, os outros foram Traumas e Navegantes. Mesmo sem apoio financeiro, a banda D.Gritos conseguiu vencer o Festival de Música Popular em Salgueiro, realizar shows em varias cidades de Pernambuco, Paraíba, Ceará e outros estados do Nordeste. O sucesso obtido com músicas como “Escravos de Ninguém (Porra)”, “Loucos (Mayra)” e “Barriga de Rei” proporcionou ao grupo apresentações em emissoras de TV em Recife-PE e em Campina Grande-PB, além de matérias em jornais de grande circulação como o Diário de Pernambuco. Os D.Gritos conseguiram ao longo do tempo escrever uma história muito peculiar, algo intenso e marcante, tanto no contexto musical regional, onde há uma preferência pelo forró, como pelas atitudes e as letras extremamente politizadas de Camilo Melo e Ricardo Rocha. Eles cantavam em alto bom tom: “Deixe o trem passar. Não arranquem os trilhos”(Grilos), era uma forma de expressar a vontade de conseguir o almejado reconhecimento e o sucesso a nível nacional. A banda liderada por Camilo Melo, Ricardo Rocha, Jorge Stanley e que contou com a participação de outros integrantes como Cleóbulo Ignácio (Binga), Jairo Ferreira, Doda, Toinho Harmonia, Paulo Rastafári, Nilsinho, Gisleno Sá, César Rasec, Derivan Calado e Elton Mourato, construiu em pouco mais de oito anos um legado musical inigualável, uma história para ser registrada e nunca mais esquecida! Um dos grandes destaques da banda foi à parceira musical de Camilo e Ricardo, juntos compuseram várias músicas de sucesso, sendo que a última, “Homem Pó”, foi um prenúncio da fatalidade que marcou a história do grupo. A música é inédita mais pode ser encontrada na internet.

Trajetória interrompida

A trajetória de sucesso da banda foi interrompida de forma trágica em 29 de agosto de 1993, quando realizavam o show de abertura da Festa de Setembro e de forma inesperada veio a falecer Ricardo Rocha com apenas vinte e três anos. A melhor narração dos fatos ocorridos naquela noite foi feita por Giovanni Sá, de forma poética e emocionada ele escreveu: “O show transcorria na mais profunda relação de amor com o público. Já se passava um pouco mais da meia-noite, depois de dedicar uma canção carinhosa a um amigo que partira sem retorno, ao som da canção NAVEGANTES, “o menino maluquinho” caía no palco pra não mais se levantar e decretava ali a sua IMORTALIDADE. O companheiro Ricardo Rocha, tombava sob a luz dos holofotes coloridos e os aplausos de um público apaixonado, no meio dos seus companheiros inseparáveis. A BANDA D’GRITOS emudecia atônita, era difícil acreditar. A vida que levava sempre era cheia de desafios, afinal, ser músico em Serra Talhada nunca foi fácil.Aquela madrugada será inesquecivel, por ser perfeita e tão belo, aquele show, alguém assistia ao show do “menino maluquinho”. Tamanha beleza e alegria tinham que ser divididas entre os mortais e as estrelas, que com certeza, acabaram de receber mais uma nessa imensa constelação de estrelas.” (Trechos do TRIBUTO AO COMPANHEIRO “Crônica do Show Anuciado”, Jornal Desafio, setembro de 1993). Com a morte de Ricardo chegou ao fim o D.Gritos, a maior banda de rock pop do interior pernambucano, era o fim de um sonho de jovens sertanejos que encontraram na música uma forma de se expressar, demonstrando as suas revoltas, suas frustações e ilusões. Porém, o repertório musical da banda venceu o tempo, e uma prova disso é que elas continuam sendo executadas diariamente em rádios de todo o interior nordestino. Em 2010 a Prefeitura Municipal e a Fundação Casa da Cultura promoveram um Tributo a Banda D.Gritos, pela primeira vez em mais de dezessete anos alguns ex-integrantes do grupo (Camilo Melo, Jorge Stanley, Gisleno Sá, Cesar Rasec e Nilsinho) voltaram ao palco e a som de “Escravos de Ninguem (Porra)” fizeram uma viagem no tempo. O destino de forma irônica colocou todos juntos no mesmo local onde ocorreu a tragédia com Ricardo Rocha. O reencontro histórico da banda D.Gritos só veio comprovar que “eles mudaram a dimensão daquilo que restou”, “o lirio brilhou” e que o “eco gritado de uma voz” continua navegando pelo tempo, como se fosse uma eterna melodia!

http://www.faroldenoticias.com.br/site/dgritos-17-anos-de-um-sonho-que-terminou-em-tragedia/

Prof. Paulo César

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